Observações e descrições astronômicas de indígenas brasileiros
a visão dos missionários, colonizadores, viajantes e naturalistas
Mots-clés :
etnoastronomia, etnociência, história do conhecimento indígena – Brasil, viajantesRésumé
Existe no Brasil um grande número de livros, crônicas, relatos e outros documentos históricos de viajantes, colonizadores, missionários, naturalistas, antropólogos e militares que estiveram em contato com os povos nativos desde a chegada dos portugueses. Nessa dissertação são analisados alguns dos mais importantes documentos históricos que trazem informação sobre etnoastronomia indígena. O objetivo do trabalho é construir um quadro geral dos conhecimentos astronômicos indígenas como descritos e interpretados por europeus e pesquisadores brasileiros. Escolhemos obras do século XVI à primeira metade do século XX, por sua importância histórica de uma maneira geral ou por serem particularmente ricas em informações etnoastronômicas. Estas informações históricas são também cotejadas com estudos etnográficos recentes sobre alguns grupos indígenas atuais. No Brasil, há poucos trabalhos de etnociências, a despeito da enorme diversidade de etnias indígenas que se espalham pelo território brasileiro, cada uma delas provida de um rico corpo de saberes constituídos e transmitidos ao longo de sua história. Assim, torna-se importante mapear, sistematizar e eventualmente divulgar os conhecimentos astronômicos empíricos e descritivos dos povos indígenas brasileiros, cujos saberes têm sido muito pouco reconhecidos historicamente. No primeiro estágio do trabalho, pesquisamos a literatura etnohistórica brasileira para identificar as obras que continham informações sobre o tema. O passo seguinte foi analisar cada uma das obras selecionadas, em que encontramos descrições de constelações, cosmogonia, mitos estelares, sistemas de calendário e alguns conhecimentos astronômicos empíricos. Ao longo do trabalho, percebemos uma inclinação dos missionários pelo conhecimento acerca da cosmogonia indígena, enquanto os naturalistas revelam, por vezes, desprezo pelo comportamento “indolente”, “preguiçoso” e “fleugmático” dos índios. Este preconceito, expresso em suas obras, talvez explique o fato das mesmas não serem tão ricas em descrições etnoastronômicas. Algumas diferenças importantes entre a astronomia ocidental e a indígena foram também identificadas, como na conceituação das constelações. Se para nós são do tipo “estrela-a-estrela”, para muitas culturas indígenas são do tipo “escuras”, utilizando-se de manchas da Via-Láctea.