O papel do método na constituição da ciência cartesiana
Mots-clés :
método, Descartes, mathesis, física e ciênciaRésumé
Nossa tese consistiu na tentativa de recuperar e compreender a física cartesiana, sobretudo aquela esboçada no Traité du monde e nos Principes de la philosophie, em razão da mathesis – introduzida como o método cartesiano nas Reguale ad directione ingenii –, posto que esta última subsidiaria a constituição de uma rede de proposições científicas cuja articulação fabrica uma descrição mecânica do real. Essa descrição da natureza porta, segundo Descartes, um forte grau de certeza, como sugere a última parte dos Principes, contudo não se pode deixar de notar que ela inscreve-se menos na realização de uma ciência perfeita e definitiva que numa perspectiva processual, aberta à revisão de suas proposições. Nesse sentido, nós tentamos dissolver a interpretação ortodoxa (axiomática) da ciência cartesiana, conforme a qual ela seria a imagem da geometria – impassível de revisão – à proporção que acentuamos, igualmente, os limites de uma interpretação pragmática para a qual a ciência cartesiana seria absolutamente maleável, constituindo-se em conformidade com a particularidade imposta por cada objeto (genus entis). No intuito de desfazermos essas interpretações, nós procuramos compreender a mathesis como uma disciplina, instituída a priori, capaz, por um lado, de substituir representações ambíguas, advindas da experiência sensível, por códigos científicos, articulando esses códigos em função de uma gramática – leis que financiam a constituição da rede de proposições empíricas. Assim, a mathesis tornou possível uma figuração (descrição por imagem) da natureza, apresentando através da experiência a medida da congruência entre o real e o simulacro da ciência. Por outro lado, nós destacamos também o papel normativo da mathesis, que constrange as ciências a disporem os seus resultados sob uma cadeia (ordem) dedutiva comum. Por conseguinte, o escopo de nossa tese fora circunscrito à apresentação da mathesis cartesiana como o método em virtude do qual Descartes construiu um sistema de filosofia natural (física), tomado como o espelho da natureza.