Observações Celestes no México Antigo

Uma interpretação da astronomia mesoamericana na obra de Frei Bernardino de Sahagún (1499-1590)

Resumo

Nesta dissertação foram analisados os conhecimentos mesoamericanos acerca dos astros publicados na Historia General de las cosas de Nueua Espaiia, do franciscano Bernardino de Sahagún. A elaboração da obra teve início logo após a chegada do missionário na Nova Espanha, em 1529, prolongando-se até sua morte em 1590. Bernardino de Sahagún almejava a evangelização dos antigos mexicanos e, para sua efetivação, escreveu este manual no qual pretendia abarcar todo o universo mesoamericano. O missionário acreditava que, averiguando a permanência da religião pré-colombiana nos hábitos, cultura, história e religião dos povos nativos, os evangelizadores poderiam convertê-los. Ao descrever o universo mesoamericano, Sahagún se preocupou também em narrar os conhecimentos indígenas, dentre os quais, da astronomia e da astrologia. O interesse do franciscano por estes saberes estava relacionado com panorama científico e religioso da Europa seiscentista. E, nesse periodo, o conhecimento europeu sobre os astros estava impregnado de práticas mágico-advinhatórias, do hermetismo e, ainda, das teorias aristotélicas. A perseguição da Igreja aos saberes que estivessem ligados à tradição mágica pode explicar o interesse do missionário pelos conhecimentos mesoamericanos, que o mesmo associou às práticas supersticiosas e mágicas. Desta fo1ma, na análise da Historia General também foram abordados aspectos do conhecimento europeu do século XVI, bem como a postura da Igreja em relação a este saber e às ordens religiosas. Além de esboçannos um panorama do conhecimento europeu e da situação da Igreja seiscentista, nesta dissertação foi apresentado alguns saberes e práticas mesoamericanas acerca dos astros. O missionário denominou de astrologia todos os saberes mexicas relacionados às práticas supersticiosas€ mágicas, incluindo o calendário adivinhatório, o Tonalpohualli, a previsão do futuro através de animais e plantas e os maus agouros. Ao relatar este conhecimento, Sahagún fornece preciosas informações sobre o conhecimento dos antigos mexicanos e acerca do cenário europeu do século XVI.