As Disputas e controvérsias na cancerologia paulista na primeira metade do século XX : o Instituto Paulista de Pesquisa sobre o Câncer

Elder Al Kondari Messora; Carlos Fioravanti

doi:10.53727/rbhc.v14i2.695

Autores

Elder Al Kondari Messora Departamento de Medicina Preventiva/FMUSP https://orcid.org/0000-0001-6168-0642
Carlos Fioravanti https://orcid.org/0000-0001-8605-1367

DOI:

https://doi.org/10.53727/rbhc.v14i2.695

Palavras-chave:

Oncologia, Filantropia, Câncer, Instituições, Medicamentos antitumorais, Cancerologia

Resumo

Este artigo é um estudo de caso constituído a partir de documentos oficiais e notícias de jornais que resgata a trajetória do Instituto Paulista de Pesquisas sobre Câncer (IPPC), uma das primeiras iniciativas da sociedade civil a integrar estudos experimentais sobre o câncer e atendimento médico gratuito em São Paulo na década de 1950. Chefiado por Jorge Erdelyi, um eletrotécnico distante dos consensos e das autoridades da cancerologia, o Instituto gerou resistência de oncologistas, em especial os da Associação Paulista de Combate ao Câncer (APCC), que disputavam os recursos econômicos e o capital simbólico da luta contra o câncer em São Paulo. O insucesso da empreitada institucional do IPPC não está associado com o número de atendimentos ou com as pesquisas desenvolvidas em seus laboratórios, mas à incapacidade de seu dirigente para ascender por dentro, como especialista, ou por fora, como outsider, na própria cancerologia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ANDRADE, R. de P.; LANA, V. Médicos, viagens e intercâmbio científico na institucionalização do combate ao câncer no Brasil (1941-1945). História, Ciências, Saúde –Manguinhos, v. 17, n.1, p.109-126, 2010.

ARAÚJO NETO, L. A.; TEIXEIRA, L. A. O câncer no Ceará: a conformação de um problema médico-social, 1940-1954. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 25, n. 1, p.181-198, 2018.

ASSISTA HOJE – dia 17 – às 22h pela TV Tupi - Canal 3 novas e sensacionais revelações sobre a verdade sobre o uso do nylon” [anúncio]. O Estado de S. Paulo, 17 set. 1952, p. 1.

BARRETO, E. M. T. Acontecimentos que fizeram a história da oncologia no Brasil: Instituto Nacional de Câncer (Inca). Revista Brasileira de Cancerologia, v. 51, n. 3, p. 267-275, 2005.

BENEFICÊNCIA. O Estado de S. Paulo, 24 out. 1954, p. 48.

BERTOLLI FILHO, C. Representações sociais do câncer e dos cancerosos em São Paulo: 1900-1950. Salusvita, v. 21, n. 2, p. 83-100, 2002.

BLOUNT, J. A. The public health movement in São Paulo, Brazil: a history of the sanitary service: 1892-1912. Tese (Doutorado). Tulane University, New Jersey, 1971.

BRASIL. Projeto de Lei da Câmara n. 144, de 1953. Diário do Congresso Nacional, 29 out. 1953, p. 1219.

BOURDIEU, P. The specifity of the scientific field an social conditions of the progress of reason. Social Science Information, v.14, n.6, p.19-47, 1975.

BOURDIEU, P. O campo científico. In: ORTIZ, R. (Org.). Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983.

BOURDIEU, P. Capital simbólico e classes sociais. Novos Estudos Cebrap, n. 96, p. 105-115, 2013.

BUENO, Eduardo. O sonho de Carmem: como a sociedade ajudou a transformar a história do câncer no Brasil. São Paulo: Comunique Editorial, 2015.

CALLON, Michel. Some elements of a sociology of translation: domestication of the scallops and the fishermen of St. Brieuc Bay. In: LAW, John (org.). Power, action and belief: a new sociology of knowledge? London: Routledge, 1986.

CÂNCER E “NYLON”. O Estado de S. Paulo, 2 set. 1953, p. 2.

“COBAIA-HUMANA”: condenado à morte pelo câncer o médico de S. Paulo que buscava há 24 anos a cura do terrível mal. Última Hora, 27 maio 1958. p. 1 e 7.

COMBATE ao câncer. O Estado de S. Paulo, 13 nov. 1958, p. 3.

ERDELYI, J. Atividades do Instituto Paulista de Pesquisas sobre o Câncer, biênio 1952-53. São Paulo: IPPC, 1953a.

ERDELYI, J. Eletricidade estática desenvolvida pelo vestuário humano. O Brasil Medico, v. 67, n. 12-13, p. 209-219, 1953b.

ESCOREL, S.; TEIXEIRA, L. A. História das políticas de saúde no Brasil de 1822 a 1963: do Império ao desenvolvimento populista. In: GIOVANELLA, L. et al (org.). Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008.

FABBRI, H. O problema hygienico do cancer. These apresentada à Faculdade de Medicina de S. Paulo, 1929. p. 35.

FESTIVAL. O Estado de S. Paulo, 7 jul. 1954, p. 2.

FIORAVANTI, C. H. A guerra contra o câncer no Brasil: médicos e cientistas em busca de novos tratamentos. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019.

FREIRE, L. de L. Seguindo Bruno Latour: notas para uma antropologia simétrica. Comum, v. 11, n. 26, p. 46-65, 2006.

GENTIL, F. [carta] 3 de out. 1957 [para] Erdelyi, J., São Paulo (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro).

HOCHMAN, G. A era do saneamento: as bases da política de saúde pública no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1998.

INSTITUTO PAULISTA de Pesquisas sobre o Câncer. O Estado de S. Paulo, 17 jan. 1952, p. 8.

INSTITUTO PAULISTA de Pesquisas sobre o Câncer. O Estado de S. Paulo, 30 dez. 1951, p. 9.

JAGADISH, Das. Relationship between static electricity and hypertension. Medical Journal of Australia, v. 2, n. 9, p. 356-357, 1976.

KAPLECINA: em 422 casos de câncer e leucemia só se registraram 18 óbitos. Diário da Noite, 29 fev. 1964.

KROEFF, M. Brasil. Ministério da Saúde. Resenha da luta contra o câncer no Brasil: documentário do Serviço Nacional de Câncer/Ministério da Saúde, 2007.

LAMMOGLIA, A. [Carta], 31 de ago. 1957 [para] Mélega, H., São Paulo (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro).

LANA, V. Ferramentas, práticas e saberes: a formação de uma rede institucional para a prevenção do câncer do colo do útero no Brasil, 1936-1970. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2012.

LANA, V. O Hospital Aristides Maltez e o controle do câncer do colo do útero no Brasil. Dynamis, v. 34, n. 1, p.25-47, 2014. LATOUR, B. Give me a laboratory and I will move the world. In: KNORR, Karin; MULKAY, Michael (ed.). Science observed. London: Sage, 1983.

LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora Unesp, 2000.

LATOUR, B. Reassembling the social: an introduction to Actor-Network Theory. Oxford, UK: Oxford University Press, 2005.

LAW, J. On the methods of long-distance control: vessels, navigators and the Portuguese route to India. In: LAW, John (ed.). Power, action and belief: a new sociology of knowledge? London, UK: Routledge and Henley, 1986.

MASCARENHAS, R. S. Contribuição para o estudo da administração sanitária estadual em São Paulo. Tese (Livre-docência) – Faculdade de Higiene e Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1949.

MERHY, E. O capitalismo e a saúde pública. São Paulo: Papirus, 1985.

MESSORA, E. Al K. A construção de um novo mal: representações do câncer em São Paulo, 1892-1953. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

MESSORA, E. Al K. Disputa pela memória: o centenário do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho. In: Encontro Estadual de História da ANPUH-SP, 25., 2020, São Paulo. Anais... São Paulo: Anpuh-SP, 2020.

MEYER, J. R. Ensaio de tratamento quimioterápico pela micelina antineoplásica em casos de cânceres humanos não operáveis. Arquivos do Instituto Biológico, v. 21, p. 43-46, 1952.

MIRRA, A. P. Hospital A. C. Camargo da Fundação Antonio Prudente: Histórico. Acta Oncologica Brasileira, v. 1-3, n. 13, p. 5-7, 1993.

MOTA, A. Tropeços da medicina bandeirante: medicina paulista entre 1892-1920. São Paulo: EdUSP, 2005.

O ‘NYLON’ não produz câncer: conclusão a que chegaram os cientistas. O Estado de S. Paulo, 20 set. 1953. p. 8.

OLIVEIRA, T. L. Você finge não ver e isso dá câncer: controle do câncer de mama no Ceará, 1960-1980. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) – Fiocruz, Rio de Janeiro, 2017.

PESQUISAS sobre o câncer: chega a São Paulo uma cidade-miniatura para exposição beneficente. O Estado de S. Paulo, 20 set. 1952, p. 9.

PINELL, P.; BROSSAT, S. The birth of cancer policies in France. Sociology of Health & Illness, v. 10, n. 4, p. 579-607, 1988.

PRUDENTE, A. O câncer precisa ser combatido. São Paulo: Calvino Filho, 1935.

PRUDENTE, A. [carta], 31 de ago. 1957 [para] Lammoglia, A., São Paulo. (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro).

RIBEIRO, M. A. R. História sem fim...: inventário da saúde pública. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Unesp/Abrasco, 1993.

SANGLARD, G. Laços de sociabilidade, filantropia e o Hospital do Câncer do Rio de Janeiro (1922-1936). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 17, n. 1, p. 127-147, 2010.

SÃO PAULO (Cidade). Parecer nº 28/57 da Comissão de Higiene, Saúde Pública e Assistência Social sobre a emenda nº 8, destacada ao Projeto de Lei nº 236/55. Câmara Municipal de São Paulo, 1958.

SÃO PAULO (Cidade). Projeto de Lei n. 820, de 1960. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 11 ago. 1960, p. 10.

SOUZA, C. M. C. de; TEIXEIRA, L. A.; LANA, V. O Hospital Aristides Maltez e as campanhas de detecção do câncer do colo do útero no interior baiano. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as, v. 6, n. 14, p. 129-152, 2014.

TEIXEIRA, L. A.; FONSECA, C. M. O. De doença desconhecida a problema de saúde pública: o Inca e o controle do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2007.

TEIXEIRA, L. A.; PORTO, M. A. P., NORONHA, C. P. O câncer no Brasil: passado e presente. Rio de Janeiro: Outras Letras, 2012.