Psiquiatria, Regime e Gestão Emocional em São Paulo
terapias de choque contra tristezas transgressoras (1920-1930)
DOI:
https://doi.org/10.53727/rbhc.v18i1.1061Palabras clave:
História da Ciência, História da Psiquiatria, Regimes Emocionais, São PauloResumen
Práticas e conhecimentos psiquiátricos exerceram significativa influência sobre as emoções em São Paulo nas primeiras décadas do século XX, período notável pelo surgimento de novas sensibilidades, exemplificadas pela superioridade e encantamento das elites em resposta às transformações sociais e urbanas, em contraste com as persistentes desigualdades que causavam sofrimento nas camadas mais pobres. Considerando o papel dos psiquiatras na regulação das emoções, este artigo propõe uma análise das terapias de choque recomendadas como estratégias de gestão emocional, com base em diagnósticos que associavam a tristeza à sintomatologia, no contexto manicomial paulista nos anos 1920 e 1930, utilizando como fonte principal a edição de 1951 do manual Psiquiatria clínica e forense, de Antonio Carlos Pacheco e Silva. A aplicação da perspectiva teórica dos regimes emocionais à análise dos resultados obtidos permite refletir sobre a imposição de padrões à vida afetiva por meio da medicalização de tristezas consideradas transgressoras.
Descargas
Citas
ACCORSI, G.E. Entre a moléstia e a cura: a experiência da malarioterapia pelos psiquiatras no Rio de Janeiro (1924-1956). 2015. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2015.
ALMEIDA, M.; DANTES, M.A.M. O Serviço Sanitário de São Paulo, a Saúde Pública e a microbiologia. In: DANTES, M.A.M. (org.). Espaços da ciência no Brasil: 1800-1930. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001. p. 137-155. DOI: https://doi.org/10.7476/9786557081570.0007
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ANDRADE, R.; CALAZANS, R. Medicalização e terceira idade: a questão da depressão. Psicanálise & Barroco em revista, v. 12, n. 2, p. 62-88, dez. 2014.
ANGEL, C.O.; AMARAL, A.J. O poder (neuro)psiquiátrico: a psicopatologização do cotidiano na era do cérebro. Psicologia & Sociedade, v. 25, p. 1-14, 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/1807-0310/2023v35262853
BELLO, L.; WILLIGES, F. Ativismo emocional: contribuições para o debate acerca do significado moral e político da raiva. Em Construção, n. 12, p. 126-136, 2022. DOI: https://doi.org/10.12957/emconstrucao.2022.71021
BERCITO, S.D.R. Corpos-máquinas: trabalhadores na produção industrial em São Paulo (décadas de 1930-1940). In: DEL PRIORE, M.; AMANTINO, M. (org.). História do corpo no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p. 371-404.
BERTUCCI, L.M. Os paulistanos e as faces do medo durante a gripe espanhola. In: MONTEIRO, Y.N.; CARNEIRO, M.L.T. (org.). As doenças e os medos sociais. São Paulo: FAP/Unifesp, 2012. p. 145-158.
BIRMAN, J. A cena constituinte da psicose maníaco-depressiva no Brasil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 17, supl. 2, p. 345-371, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-59702010000600005
BRASIL. Lei n. 3.071, de 1 de janeiro de 1916. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, seção 1, p. 133, 1916.
BRUCKNER, P. A euforia perpétua: ensaio sobre o dever da felicidade. Rio de Janeiro: Difel, 2014.
CAMPOS, P.F.S. “Loucos de todo gênero”: o manual “Psiquiatria clínica e forense” de Antonio Carlos Pacheco e Silva. Projeto História, São Paulo, v. 72, p. 81-106, set.-dez., 2021. DOI: https://doi.org/10.23925/2176-2767.2021v72p81-106
CAPONI, S. Loucos e degenerados: uma genealogia da psiquiatria ampliada. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2012. DOI: https://doi.org/10.7476/9788575413340
CARVALHO, J.M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
CARVALHO, J.M. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
CORBIN, A. História do silêncio: do Renascimento aos nossos dias. Petrópolis: Vozes, 2021.
CORDÁS, T. A.; EMILIO, M.S. História da melancolia. Porto Alegre: Artmed, 2017.
COSTA, J.F. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
COSTA, J.F. História da psiquiatria no Brasil: um corte ideológico. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
FAUSTO, B. Crime e cotidiano: a criminalidade em São Paulo (1880-1924). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
FEBVRE, L. La sensibilité et l’histoire: comment reconstituer la vie affective d’atrefois? Annales d’Histoire Sociale, v. 3, n. 1-2, p. 5-20, 1941.
FERREIRA, M.S. Medicalização da vida: sobre o processo de biologização da existência. Alumni, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. 26-34, 2017.
FOUCAULT, M. O poder psiquiátrico: curso dado no Collège de France (1973-1974). São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Gripe espanhola [verbete]. Atlas histórico do Brasil. Disponível em: https://atlas.fgv.br/verbetes/gripe-espanhola. Acesso em: 12 set. 2024.
GOMES, A.C. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
HAN, B.-C. Psicopolítica: neoliberalismo y nuevas técnicas de poder. Barcelona: Herder, 2014. DOI: https://doi.org/10.2307/j.ctvt7x7vj
HENRIQUES, R.P. A medicalização da existência e o descentramento do sujeito na atualidade. Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, v. XII, n. 3-4, p. 793-816, 2012.
HOOKS, B. Comunhão: a busca das mulheres pelo amor. São Paulo: Elefante, 2024.
MACHADO, R. et al. Danação da norma: medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
MACHIN, R.; MOTA, A. Entre o particular e o geral: a constituição de uma “loucura negra” no Hospício de Juquery em São Paulo, Brasil (1898-1920). Interface, Botucatu, v. 23, p. 1-14, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/interface.180314
MATOS, M.I.S. Construindo a paulistaneidade: as representações do feminino e do masculino no discurso médico-eugênico, São Paulo (1890-1930). História Revista, v. 1, n. 1, p. 125-144, 1996.
MEADE, T.A. A brief history of Brazil. New York: Checkmark Books. 2004.
MOTA, A. Quem é bom já nasce feito: sanitarismo e eugenia no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
MOTA, A. Tropeços da medicina bandeirante: medicina paulista entre 1882-1920. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005.
MOURA, H.V.C. Vivências de diagnóstico de psicose maníaco-depressiva no hospital dos alienados de Recife nos anos 50. Cadernos de História, Recife, v. 7, n. 7, p. 145-166, 2010.
PADOVAN, M.C. A terapêutica da malarioterapia no Hospital de Alienados de Recife (1930-1945). Cadernos de História, Recife, v. 7, n. 7, p. 85-115, 2010.
PEREIRA, L.M.F. Reformas da ilusão: a terapêutica psiquiátrica em São Paulo na primeira metade do século XX. 1995. Tese (Doutorado em Saúde Mental) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995.
PEREIRA, M.R. Presença cultural francesa no Brasil. Travessia, n. 65, p. 89-100, set.-dez. 2009. DOI: https://doi.org/10.48213/travessia.vi65.560
RAGO, M. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar. Brasil: 1890-1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
REDDY, W. The navigation of feeling: a framework for the history of emotions. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
RIGONATTI, S.P. História dos tratamentos biológicos. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 31, n. 5, p. 210-212, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-60832004000500002
SANT’ANNA, D.B. Entre o peso do corpo e o pesar da alma: notas para uma história das emoções tristes na época contemporânea. História: Questões & Debate, Curitiba, n. 59, p. 99-113, jul.-dez., 2013. DOI: https://doi.org/10.5380/his.v59i2.37035
SANT’ANNA, D.B. História da beleza no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014.
SANTOS, F.A. A capital paulista, suas águas e seu espaço (1890-1940): diferentes ações, um sentido. América Latina en la Historia Económica, v. 28, n. 2, p. 1-25, 2021. DOI: https://doi.org/10.18232/alhe.1125
SANTOS, M.C.; MOTA, A. São Paulo 1932: memória, mito e identidade. São Paulo: Alameda, 2010.
SERRA, L.N. Infância perdida: a concepção de “menores anormais” na obra de Pacheco e Silva. 2011. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
SEVCENKO, N. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
SILVA, A.C.P. Psiquiatria clínica e forense. São Paulo: Renascença, 1951.
SILVA, E.L.F.M. Saudades d’além mar: patologia da transplantação entre imigrantes lusitanos em São Paulo, anos de 1930. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 28., 2015, Florianópolis. Anais [...], Florianópolis, 2015. Disponível em: https://www.eeh2016.anpuh-rs.org.br/resources/anais/39/1438364371_ARQUIVO_textoANPUH(2015).pdf. Acesso em: 13 set. 2024.
SIQUEIRA, L.F.L. Afecções de mulher: a construção do feminino no compêndio “Psiquiatria clínica e forense” de Antonio Carlos Pacheco e Silva (São Paulo, 1930-1940). 2022. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) – Universidade Santo Amaro, São Paulo, 2022.
SMITH, A.D. La identidad nacional. Madrid: Trama Editorial, 1997.
SZASZ, T.S. The myth of mental illness. American Psychologist, v. 15, p. 113-118, 1960. DOI: https://doi.org/10.1037/h0046535
TARELOW, G.Q. Psiquiatra em convulsão: a cardiazolterapia e a introdução da eletroconvulsoterapia no Hospital de Juquery. In: MOTA, A.; MARINHO, M. G. S. M. C. (org.). História da Psiquiatria: ciências, práticas e tecnologias de uma especialidade médica. São Paulo: USP, Faculdade de Medicina: UFABC, Universidade Federal do ABC: CD.G Casa de Soluções e Editora, 2012. p. 213-228.
TARELOW, G.Q. Entre comas, febres e convulsões: os tratamentos de choque no Hospital do Juquery (1923-1937). Santo André: Universidade Federal do ABC, 2013.
TARELOW, G.Q. Psiquiatria e política: o jaleco, a farda e o paletó de Antônio Carlos Pacheco e Silva. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2020. DOI: https://doi.org/10.7476/9786557080184
TARELOW, G.Q. Vinho novo em odres velhos: uma análise sobre a gestão de Antonio Carlos Pacheco e Silva frente ao Hospital de Juquery. Tempos Históricos, v. 27, n. 1, p. 5-34, 2023. DOI: https://doi.org/10.36449/rth.v27i1.28205
TOLEDO, R.P. A capital da vertigem: uma história de São Paulo de 1900 a 1954. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
TRUZZI, O.; MATOS, M.I. Saudades: sensibilidades no epistolário de e/imigrantes portugueses (Portugal-Brasil, 1890-1930). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 35, n. 70, p. 257-277, 2015. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-93472015v35n70011
URQUIZA, L.M.F.P. Um tratamento para a loucura: contribuição à história da emergência prática psiquiátrica no estado de São Paulo. 1991. Dissertação (Mestrado em Medicina) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1991.
VINCENT-BUFFAULT, A. The history of tears: sensibility and sentimentality in France. London: The Macmillan Press, 1991. DOI: https://doi.org/10.1007/978-1-349-21317-7
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Thayná Alves Rocha

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0.